Por isso, uma tentativa de compilar o que pode definir o princípio humanista secular é feita a seguir.
Uma de suas características marcantes é o uso da razão como ferramenta primária de análise das questões humanas e também existenciais, em detrimento da fé ou misticismo. Acima de tudo, a...
razão – é possível derivar muitas conclusões relevantes através de ciclos de análise racional acerca da verdade, relevância ou lógica de alegações e impressões sobre o mundo.
razão – é possível derivar muitas conclusões relevantes através de ciclos de análise racional acerca da verdade, relevância ou lógica de alegações e impressões sobre o mundo.
Seja na busca de entendimento, ou de felicidade, a receita é a mesma: a felicidade que contenta não deriva da plenitude do pseudoconhecimento absoluto, mas da aceitação da razão como ferramenta principal da busca, dentro da praticidade real de se conhecer e entender a verdade objetiva e aceitar a realidade mais evidente, isto é, o conjunto de modelos que são apoiados por evidência factual.
Isto significa entender a realidade pela interpretação de fatos e tirar conclusões consistentes que estejam acima da dúvida razoável, desde os princípios de conduta, ética e moral até a análise de sistemas políticos, sociais e culturais. Aplicar o ceticismo e o naturalismo metodológico não só dentro da esfera científica, mas dentro de outras conclusões relevantes, pessoais ou coletivas, sobre o mundo.
É, desta forma, possível usar o humanismo secular como filosofia que serve não para dotar a vida de sentido único e absoluto, como alegam fazer as mais diversas correntes ideológicas baseadas em fé e dogma, mas para fazer cada um de nós buscar dentro de si mesmo o sentido que realmente lhe é relevante. Nada de receitas, doutrinas ou mandamentos – somente ferramentas para expandir as fronteiras do conhecimento humano, individualmente.
E estes valores epistêmicos se articulam com valores éticos: primeiro, se queremos diminuir o sofrimento no mundo, precisamos conhecer bem suas origens e aplicar teorias que tenham garantia funcional para dirimi-lo; Segundo, se queremos ter solidez em nossos conhecimentos, precisamos que mentes independentes naturalmente convirjam para as mesmas respostas, não pela força da convergência em si, mas pela força da unidade intrínseca do mundo natural.
E isso só pode ser feito com um projeto inclusivo, que tome a humanidade como grupo indivisível, em que todos têm vez e voz – exceto vez para excluir e voz para calar.
Texto de Pedro Almeida e Eli Vieira (BuleVoador)
Declaração Humanista Secular
Declaração Humanista Secular
1- introdução
O Humanismo Secular é uma força vital no mundo contemporâneo. Atualmente, está sob injustificado e desmedido ataque vindo de todas as direções. Essa declaração defende apenas o humanismo secular que é explícitamente comprometido com a democracia. Ele se opõe a todas as variedades de crenças que buscam ratificação sobrenatural para seus valores ou patrocinam o domínio pela ditadura.
O Humanismo Secular Democrático é uma poderosa força na cultura mundial. Seus ideais podem ser rastreados nos filósofos, cientistas e poetas da Grécia clássica e de Roma; na antiga sociedade Confusiana chinesa; no movimento Carvaka da Índia e em outras distintas tradições morais e intelectuais. O secularismo e o humanismo foram eclipsados na Europa durante a Era do Obscurantismo, quando a piedade religiosa corroeu a confiança da humanidade em seus próprios poderes para solucionar os problemas humanos. Eles reapareceram com força durante o Renascimento, com a reafirmação dos valores humanistas seculares na literatura e nas artes; nos séculos dezesseis e dezessete, com o desenvolvimento da ciência moderna e a visão naturalista do universo; e no século dezoito, onde sua influência pode ser encontrada na Idade da Razão e no Iluminismo.
O Humanismo Secular Democrático floresceu criativamente nos tempos modernos, com o crescimento da liberdade e da democracia. Milhões de pessoas de opinião abraçam os ideais humanistas seculares, levam vidas significativas e contribuem para a construção de um mundo mais democrático e humano. A perspectiva do moderno humanismo secular permitiu a aplicação da ciência e da tecnologia no melhoramento das condições humanas. Isso teve efeitos na redução da pobreza, do sofrimento e das doenças em várias partes do mundo; no aumento da expectativa de vida; na melhoria do transporte e da comunicação, tornando possível uma vida melhor para mais e mais pessoas. Conduziu à emancipação de milhões de pessoas do exercício da fé cega e dos medos da superstição e contribuiu para a educação e enriquecimento de suas vidas.
O Humanismo Secular ofereceu ao homem o ímpeto para resolver seus problemas com inteligência e perseverança; para conquistar fronteiras geográficas e sociais e para estender o campo da exploração humana e da aventura. Lamentavelmente, hoje estamos diante de uma variedade de tendências anti-seculares: o reaparecimento de religiões dogmáticas autoritárias, fundamentalismo, literalismo, Cristianismo doutrinário, veloz crescimento de um intransigente clericalismo Muçulmano no Oriente Médio; a reafirmação da autoridade ortodoxa pela hierarquia papal Católica Romana; Judaísmo nacionalista religioso e a reversão para o obscurantismo na Ásia.
Novos cultos do irracional, bem como bizarras crenças paranormais e ocultas, tais como astrologia, reencarnação e os alegados poderes misteriosos da mente, estão crescendo em muitas sociedades Ocidentais. Estes desenvolvimentos confusos seguem na onda do surgimento, no início do século vinte, de intoleráveis movimentos messiânicos e totalitários, quase religiosos, tais como o fascismo e o comunismo. Esses ativistas religiosos são responsáveis não só pela maior parte do terror e violência no mundo de hoje, como também colocam-se como obstáculo para as soluções dos mais sérios problemas do mundo.
Paradoxalmente, alguns críticos do humanismo secular afirmam que ele é uma filosofia perigosa. Alguns defendem que é “moralmente corruptora” porque está comprometida com a liberdade individual; outros, que ela fecha os olhos sobre a “injustiça” porque defende o devido processo democrático. Nós, que defendemos o humanismo secular democrático, renegamos esses ataques baseados em mal-entendidos e más interpretações e nos esforçamos para delinear um conjunto de princípios que a maioria de nós compartilha.
O Humanismo Secular não é um dogma ou credo. Existe uma larga gama de opiniões diferentes entre os humanistas seculares, em muitas questões. No entanto, existe um livre consenso em relação a várias proposições. Estamos apreensivos quanto a civilização moderna estar sob a ameaça de forças contrárias à razão, democracia e liberdade. Muitos crentes religiosos irão, sem dúvida, compartilhar conosco de muitos valores humanistas seculares e democráticos e nós saudamos sua união conosco, na defesa desses ideais.
2- Livre Investigação
O primeiro princípio do humanismo secular democrático é o compromisso com a livre investigação. Nós nos opomos a qualquer tirania sobre a mente do homem, qualquer ação por instituições eclesiásticas, políticas, ideológicas ou sociais para acorrentar o livre pensamento.
No passado, essas tiranias foram direcionadas por Igrejas e Estados na tentativa de reforçar os éditos de fanáticos religiosos. Na longa contenda na história da idéias, instituições estabelecidas, tanto públicas como privadas, tentaram censurar a investigação, para impor crenças e valores ortodoxos e para excomungar heréticos e extirpar incrédulos. Hoje, a luta pela livre investigação assumiu novas formas. Ideologias sectárias transformaram-se nas novas teologias que usam partidos políticos e governos em sua missão de esmagar as opiniões dissidentes.
A Livre Investigação transfere o reconhecimento integral das liberdades civís a quem a busca, isto é, uma imprensa livre; liberdade de comunicação; direito de organizar partidos de oposição e se associar voluntariamente a associações; liberdade para cultivar e publicar os frutos da liberdade científica, filosófica, artística, literária, moral e religiosa. A Livre Investigação requer a tolerâsncia á diversidade de opiniões e o respeito ao direito dos indivíduos expressarem suas crenças, quão impopular elas possam ser, sem proibições sociais, legais ou medo de sanções.
A tolerância a pontos de vista contrastantes não significa que eles estejam imunes ao exame crítico. A premissa orientadora daqueles que acreditam na livre investigação é que a verdade é mais facilmente descoberta se existe oportunidade para a troca de opiniões contrárias. O processo de intercâmbio é frequentemente tão importante quanto o resultado. Isto se aplica não somente à ciência, mas também ao dia-a-dia, à política, economia, moralidade e religião.
3- Separação Entre Igreja e Estado
Em razão de seu compromisso com a liberdade, o humanismo secular acredita no princípio da separação entre a Igreja e o Estado. As lições da história são claras: por toda a parte onde uma religião ou ideologia é estabelecida e recebe uma posição dominante no Estado, as opiniões minoritárias estão comprometidas.
Uma sociedade democrática aberta e pluralista permite que todos os pontos de vista sejam ouvidos. Qualquer atitude para impor uma concepção exclusiva da Verdade, Religiosidade, Virtude ou Justiça sobre o todo da sociedade é uma violação da livre investigação. Autoridades clericais não podem ter permissão de legislar suas próprias visões paroquiais – sejam morais, filosóficas, políticas, educacionais ou sociais – sobre o resto da sociedade.
Receitas de taxas não podem ser exigidas para o benefício ou suporte de instituições religiosas sectárias. Indivíduos e associações voluntárias devem ser livres para aceitar ou não aceitar qualquer crença e para sustentar essas convicções com quaisquer recursos que possam ter, sem serem compelidos, por taxação, a contribuir para cultos religiosos com os quais não concordam.
Da mesma forma, as propriedades da Igreja devem participar com a sua parte nas receitas públicas e não devem ser isentas de taxação. Juramentos compulsórios e orações nas instituições públicas (políticas ou educacionais) também são uma violação do princípio da separação. Hoje em dia, tanto as religiões teístas como os não-teístas competem por atenção.
Lamentavelmente, em países comunistas o poder do Estado é usado para impor uma doutrina ideológica à sociedade, sem tolerar a expressão da divergência ou visões heréticas. Aqui, vemos uma versão secular moderna da violação do princípio da separação.
4- O Ideal de Liberdade
Existem muitas formas de totalitarismo no mundo moderno – secular e não-secular – e nos opomos vigorosamente a todas elas. Como secularistas democráticos, consistentemente defendemos o ideal de liberdade contra os interesses eclesiásticos, políticos e econômicos que buscam reprimí-los. Não somente defendemos a liberdade de consciência e crença, mas a genuína liberdade política, a tomada de decisão democrática baseada no poder da maioria e o respeito pelos direitos das minorias e o cumprimento da lei.
Nós defendemos não somente a liberdade de controles religiosos mas também a liberdade de controles governamentais chauvinistas. Somos a favor da defesa dos direitos humanos básicos, incluindo o direito de proteger a vida, a liberdade e a busca da felicidade.
Em nossa visão, uma sociedade livre deve, também, estimular algumas medidas de liberdade econômica, estabelecendo restrições apenas onde for necessário ao interesse público. Isto significa que indivíduos e grupos devem estar aptos a competir no mercado, organizar livres sindicatos de comércio e desenvolver suas ocupações e negócios sem a interferência indevida do controle político centralizado.
O direito à propriedade privada é um direito humano sem o qual os outros direitos perdem o valor. Quando for necessário limitar qualquer desses direitos em uma democracia, a limitação deve ser justificada em termos de sua consequência na consolidação da completa estrutura de direitos humanos.
5- Ética Baseada em Inteligência Crítica
A visão moral do humanismo secular tem sido submetida à crítica por religiosos teístas fundamentalistas. O humanismo secular reconhece o papel central da moralidade na vida humana. Na verdade, a ética foi desenvolvida como um ramo do conhecimento humano muito antes dos religiosos proclamarem seus sistemas morais baseados na autoridade divina.
O campo da ética possui uma distinguida lista de pensadores que contribuíram para o seu desenvolvimento: desde Sócrates, Demócrito, Aristóteles, Epicuro até Spinoza; como Erasmo, Hume, Voltaire, Kant, Bentham, Mill, G.E. Moore, Bertrand Russel, John Dewey, e outros.
Existe uma influente tradição filosófica que sustenta que a ética é um campo autônomo de investigação, que os julgamentos éticos podem ser formulados independentemente de religião revelada, que os seres humanos podem cultivar a razão prática e a sabedoria e, por sua aplicação, alcançar vidas de virtude e excelência. Além disso, os filósofos enfatizam a necessidade de cultivar o apreço pelos requisitos da justiça social e pelas obrigações e responsabilidades individuais perante os outros.
Assim, os secularistas negam que a moralidade precisa ser deduzida de crenças religiosas ou que aqueles que não abraçam uma doutrina religiosa são imorais. Para os humanistas seculares, a conduta ética é, ou deve ser, julgada pela razão crítica, e seu objetivo é desenvolver indivíduos autônomos e responsáveis, capacitados a fazerem suas próprias escolhas na vida, baseados num entendimento do comportamento humano. A moralidade que não é baseada em Deus não precisa ser anti-social, subjetiva ou promíscua; nem precisa conduzir à ruptura dos padrões morais.
Embora nós acreditemos na tolerância aos diversos estilos de vida e maneiras sociais, não achamos que sejam imunes à crítica. Nem acreditamos que qualquer das Igrejas deva impor suas visões de virtude moral e pecado, conduta sexual, casamento, divórcio, controle da natalidade, aborto, ou legislá-los para o resto da sociedade. Como humanistas seculares acreditamos na importância central do valor da felicidade humana aqui e agora. Somos contra a moralidade absoluta. Todavia, sustentamos que objetivos padrões surgem, e os valores e princípios éticos podem ser descobertos no curso de uma deliberação ética.
A ética humanista secular sustenta que é possível aos seres humanos levarem vidas expressivas e saudáveis para si próprios e a serviço de seus companheiros humanos, sem a necessidade de mandamentos religiosos ou de benefícios do clero. Existiram muitos secularistas e humanistas distintos que demonstraram princípios morais em suas vidas pessoais e trabalho: Protagoras, Lucrecio, Epicuro, Spinoza, Hume,Thomas Paine, Diderot, Mark Twain, George Eliot, John Stuart Mill, Ernest Renan, Charles Darwin, Thomas Edison, Clarence Darrow, Robert Ingersoll, Gilbert Murray, Albert Schwietzer, Albert Einstein, Max Born, Margaret Sanger e Bertrand Russel, entre outros.
6- Educação Moral
Acreditamos que o desenvolvimento moral deve ser cultivado nas crianças e nos adultos jovens. Nós não acreditamos que qualquer seita, em particular, possa reivindicar valores importantes como de sua exclusiva propriedade. Portanto, é dever da educação pública lidar com esses valores. Consequentemente, apoiamos a educação moral nas escolas, direcionada a desenvolver o apreço pelas virtudes morais, inteligência e construção do caráter.
Desejamos incentivar, onde for possível, o crescimento da precaução moral, a capacidade da livre escolha e o entendimento das consequências disso. Não consideramos que seja moral batizar crianças, confirmar adolescentes ou impor um credo religioso aos jovens, antes de estarem aptos a consentir. Embora as crianças devam aprender sobre a história das práticas religiosas, suas mentes jovens não devem ser doutrinadas na fé antes de estarem maduras o suficiente para avaliar os méritos por elas próprias.
Devemos salientar que o humanismo secular não é tanto uma moralidade específica quanto é um método para a explicação e descoberta dos princípios morais racionais.
7- Ceticismo Religioso
Como humanistas seculares somos geralmente céticos sobre as alegações sobrenaturais. Reconhecemos a importância da experiência religiosa, aquela experiência que redireciona e dá sentido à vida dos seres humanos. Nós negamos, entretanto, que tais experiências tenham alguma relação com o sobrenatural. Nós duvidamos das visões tradicionais de Deus e divindade. Interpretações simbólicas e mitológicas da religião, frequentemente servem como racionalizações para uma sofisticada minoria, enquanto conduzem o grosso da humanidade a debater-se na confusão teológica.
Nós consideramos que o universo seja um palco dinâmico para forças naturais que são mais efetivamente entendidas por meio da investigação científica. Estamos sempre abertos para a descoberta de novas possibilidades e fenômenos na natureza. Entretanto, consideramos que visões tradicionais da existência de Deus não têm sentido, não foram ainda demonstradas verdadeiras ou são tiranicamente exploradas.
Humanistas seculares podem ser agnósticos, ateístas, racionalistas ou céticos, mas consideram que as evidências para a afirmação de que existe um propósito divino para o universo são insuficientes. Rejeitam a idéia de um deus que interveio miraculosamente na história, que se revelou a uns poucos escolhidos ou que possa salvar ou redimir os pecadores. Acreditam que homens e mulheres são livres e responsáveis por seu próprio destino e não podem apelar a um ser transcendental para a sua própria salvação. Nós rejeitamos a divindade de Jesus, a missão divina de Moisés, de Maomé e de outros profetas e santos do dia, das várias seitas e denominações.
Nós não aceitamos, como verdade, as interpretações literais do Velho e do Novo Testamento, do Corão ou de outro alegado documento religioso e sagrado, independente de quão importantes possam ser do ponto de vista literário. As religiões são fenômenos sociológicos penetrantes e os mitos religiosos persistem, longamente, na história humana. A despeito do fato de que os seres humanos consideram as religiões como forma de elevação e consolo, nós não consideramos que seus argumentos teológicos sejam verdadeiros. As religiões fizeram tanto contribuições negativas quanto positivas para o desenvolvimento da civilização humana.
Embora tenham ajudado a construir hospitais e escolas e, no seu melhor, estimulado o espírito de amor e caridade, muitas também causaram sofrimento humano, ao serem intolerantes com aqueles que não aceitaram seus dogmas ou credos. Algumas religiões são fanáticas e repressivas, estreitam as esperanças humanas, limitam suas aspirações e precipitam guerras religiosas e violência. Enquanto as religiões ofereceram, sem dúvida, conforto aos despojados e moribundos ao exibir a promessa de uma vida imortal, elas também levantaram medo mórbido e pavor. Nós não encontramos nenhuma evidência convincente de que exista uma “alma” separável, que ela exista antes do nascimento ou sobreviva à morte.
Concluímos, portanto, que a vida ética pode ser vivida sem as ilusões da imortalidade ou da reencarnação. Os seres humanos podem desenvolver a autoconfiança necessária para o aperfeiçoamento das condições humanas e para conduzir vidas produtivas e significativas.
8- Razão
Vemos com preocupação o atual ataque, por não-secularistas, à razão e à ciência. Estamos comprometidos com o uso dos métodos racionais de investigação, com a lógica e com a evidência, no desenvolvimento do conhecimento e no teste de comprovação da verdade das afirmações.
Desde que seres humanos são propensos a erro, estamos abertos para a modificação de todos os princípios, incluindo aqueles que governam as investigações, por acreditarmos que sejam passíveis de correção constante.
Embora não tão ingênuos para acreditar que a razão e a ciência possam resolver facilmente todos os problemas humanos, nós, não obstante, sustentamos que elas podem trazer uma grande contribuição para o conhecimento humano e ser de grande valor para a humanidade. Nós não conhecemos nenhum substituto melhor para o cultivo da inteligência humana.
9- Ciência e Tecnologia
Acreditamos que o método científico, embora imperfeito, ainda é o mais confiável meio de compreender o mundo. Por isso, optamos pelas ciências natural, biológica, social e comportamental como forma de conhecimento do universo e do lugar do homem dentro dele. A astronomia moderna e a física abriram novas e excitantes dimensões do universo. Elas permitiram à humanidade explorar o cosmos por intermédio das viagens espaciais. A biologia, as ciências sociais e comportamentais expandiram nosso entendimento do comportamento humano.
Por isso, somos, em princípio, contrários a toda ação que procure censurar ou limitar a pesquisa científica, sem uma razão prioritária para isso. Embora alertas e contrários aos abusos da tecnologia mal aplicada e suas possíveis consequências danosas para a ecologia natural do ambiente humano, insistimos na resistência contra atitudes impensadas que visam limitar os avanços tecnológicos ou científicos.
Nós apreciamos os enormes benefícios que a ciência e a tecnologia (especialmente a pesquisa básica e aplicada) podem trazer para a humanidade, mas também reconhecemos a necessidade de contrabalançar os avanços tecnológicos e científicos com explorações culturais na arte, música e literatura.
10- Evolução
Atualmente, a teoria da evolução está novamente sob ataque pesado dos fundamentalistas religiosos. Embora a teoria da evolução não possa ser considerada completa em sua formulação, ou como um princípio infalível da ciência; não obstante, ela é sustentada de forma impressionante pelas descobertas de muitas ciências.
Parecem existir algumas diferenças significativas entre os cientistas com relação à mecânica da evolução, todavia, a evolução das espécies é sustentada tão fortemente pelo peso da evidência que é difícil rejeitá-la. Consequentemente, deploramos os esforços dos fundamentalistas (especialmente nos Estados Unidos) em invadir as classes de aula de ciências, para exigir que a teoria criacionista seja ensinada aos estudantes e incluída nos livros de biologia.
Essa é uma séria ameaça tanto à liberdade acadêmica como à integridade do processo educacional. Acreditamos que os criacionistas certamente têm o direito de expressar seus pontos de vista na sociedade. Além disso, nós não negamos o valor do exame da teoria da criação em cursos educacionais de religião e de história das idéias, mas é um embuste disfarçar um artigo de fé religiosa como uma verdade científica e impor essa doutrina ao currículo de ciências. Se vitoriosos, os criacionistas podem, seriamente, solapar a credibilidade da ciência propriamente dita.
11- Educação
Na nossa visão, a educação deve ser o método essencial para a construção de sociedades humanistas livres e democráticas. Os objetivos da educação são vários: a transmissão do conhecimento, treinamento para ocupações, carreiras e cidadania democrática e o estímulo ao crescimento moral. Entre os seus múltiplos propósitos deve estar, também, uma tentativa de desenvolver a capacidade para a inteligência crítica tanto no indivíduo como na comunidade.
Infelizmente, as escolas foram substituídas pela mídia de massa no papel de principais instituições de educação e informação ao público. Embora a mídia eletrônica ofereça oportunidades sem paralelo para um crescente enriquecimento cultural, de lazer e de aprendizado, há uma séria má orientação em seus propósitos.
Nas sociedades totalitárias, a mídia serve como veículo de propaganda e doutrinação. Nas sociedades democráticas, a televisão, o rádio, os filmes e as publicações de massa buscam, com frequência, somente a audiência e transformaram-se numa banalidade descartável. Existe uma necessidade urgente de elevar os padrões de bom gosto e de avaliação.
De especial atenção para os secularistas é o fato de que a mídia (particularmente nos Estados Unidos) está excessivamente dominada por intenções pró-religiosas. As visões de pregadores, curandeiros de fé e mercenários religiosos seguem livremente, sem contestação e sem oportunidades ao segmento secular. Nós acreditamos que os diretores e produtores de televisão têm a obrigação de restabelecer o equilíbrio e rever sua programação. Na verdade, existe uma imensa tarefa que todos aqueles que acreditam nos valores da democracia humanista secular reconhecerão, que é, exatamente, a necessidade de se engajar num programa de longo prazo em educação pública e esclarecimento com relação à relevância da perspectiva secular para a condição humana.
12- Conclusão
A Democracia Humanista Secular é muito importante para humanidade, e não deve ser abandonada. Pessoas racionais certamente reconhecerão sua profunda contribuição para o bem-estar humano. Não obstante, estamos cercados por profetas do infortúnio do juízo final, sempre desejando girar o relógio para trás. Eles são anticiência, antiliberdade, anti-humanos. Em contrapartida, a perspectiva humanista secular é basicamente transformadora, voltada para a frente, com esperança; e não para trás, com desespero.
Estamos comprometidos a expandir, através da comunidade mundial, os ideais da razão, liberdade, oportunidade individual e coletiva, e a democracia. Os problemas com que a humanidade se defrontará no futuro, tal qual no passado, serão sem dúvida complexos e difíceis. Entretanto, se é para sobrepujá-los, isso só pode ser feito agregando-se engenhosidade e coragem.
Os humanistas seculares confiam mais na inteligência humana do que na orientação divina. Céticos de teorias da redenção, maldição e ressurreição, os humanistas seculares tentam conduzir a situação humana em termos realistas: os seres humanos são responsáveis por seu próprio destino. Nós acreditamos que é possível motivar um mundo mais humano, baseado nos métodos da razão e nos princípios da tolerância, compromisso e negociação das diferenças.
Nós reconhecemos a necessidade da modéstia intelectual e da boa vontade para revisar crenças à luz das críticas. A despeito das emoções serem importantes, não precisamos lançar mão de panacéias de salvação, fugir por meio da ilusão ou dar um salto desesperado em direção à paixão e violência. Nós deploramos o aumento dos cultos sectários intolerantes que fomentam o ódio. Num mundo engolido pelo obscurantismo e pelo irracionalismo, é vital que as idéias da cidade secular não sejam perdidas.
Autor: The Council for Democratic and Secular Humanism (hoje Council for Secular Humanism) – 1980
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