Eis mais um daqueles casos em que nos perguntamos até onde vai a força e a blindagem das religiões e seus apêndices.
Segundo o Paulopes Weblog, a 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) confirmou em votação unânime a sentença de primeira instância que determinou que o UOL (Universo On Line) retirasse do site Clickjogos o Faith Fighter, reformando a parte da sentença que obrigava o provedor a pagar indenização de R$ 30 mil por dano moral coletivo à Mesquita Muçulmana da cidade de Barretos-SP, autora da ação judicial contra o UOL.
No jogo, personagens como Deus, Buda, Maomé e Jesus lutam entre si. A mesquita autora da ação considera o jogo ofensivo a Maomé. Nenhuma outra religião teria se feito qualquer objeção parecida ao
game. (Não sei por que, mas subtamente me lembrei do Dia de Desenhar Maomé)Conforme divulgado, o relator do caso, desembargador Ênio Zuliani, considera que o jogo “constitui uma vulgaridade” por extrapolar a tolerância religiosa. Ainda segundo ele, a religião tem de ser respeitada não só nos locais de reunião dos fiéis, mas também fora deles, o que inclui a internet.
Pronto. É aqui que meu sangue quase ferve.
Em minha opinião, o meritíssimo desembargador citado está profundamente equivocado. Não acho que há qualquer motivo para que qualquer religião seja respeitada, pelo menos não mais do que qualquer outro tipo de ideia, opinião ou ideologia. Críticas, sátiras, escárnio, paródias recaem sobre diversos aspectos da vida em sociedade, e nesse sentido religiões não devem ser diferentes de posicionamentos políticos, gostos musicais, cinematográficos ou literários.
Não deve haver qualquer blindagem especial para proteger crenças pessoais; Todas devem ser expostas a todo tipo de crítica, seja ela séria ou humorística.
O caso fica ainda mais absurdo quando consideramos que, na verdade, nenhuma religião foi efetivamente atacada. O que houve foi um sarro com figuras que, se não forem mitológicas, estão mortas há séculos, milênios, e que, portanto, não merecem, a meu ver, qualquer tipo de proteção da justiça e do Estado.
Termino este post com um trecho do texto “Ateus, saiam do armário! Ateísmo e falsas simetrias”, do Idelber Abelar no blog “O Biscoito Fino e a Massa”:
Autor: Alex Rodrigues“tem que respeitar religião porra nenhuma. Tem que acabar com essa história de que, todas vezes que apontamos a misoginia, a homofobia, os estupros de crianças, a guerra anticiência, os séculos de lambança obscurantista, sempre aparece alguém para dizer “ah, tem que respeitar minha religião”.Ideias não foram feitas para serem “respeitadas”. Ideias foram feitas para serem debatidas, questionadas, copiadas, circuladas, disseminadas, combatidas e defendidas, parodiadas e criticadas. De preferência com argumentos. Seres humanos merecem respeito. Pregação contra o que seres humanos são, por sua própria essência e identidade (gênero, raça, orientação sexual) não pode ser confundida com sátira antirreligiosa. A maioria dos carolas adora confundir sátira antirreligiosa com ataque misógino ou homofóbico. Não entendem que sua superstição é, essa sim, uma opção.”
Fonte: Bule Voador
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